Digníssimo leitor, que compartilha conosco a mesma fé católica e espera confiante as promessas de salvação e de vida eterna! Podemos dizer que Deus tinha, basicamente, dois motivos fundamentais para realizar a sua manifestação neste mundo, de forma humana e visível. Este Mistério da Encarnação, que estava guardado no seio da Divindade desde a eternidade, foi-nos revelado, lenta e progressivamente, ao longo de toda a Sagrada Escritura. Este Mistério, entretanto, foi-nos plenamente manifestado na “Plenitude dos Tempos”, quando, finalmente, o nosso Senhor Jesus Cristo, o “Verbo de Deus que se fez carne, habitou entre nós” (Jo 1, 14). Ou ainda, conforme o testemunho de João: “O Verbo de Deus existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilhava nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la. Ele, o Verbo, era a Luz verdadeira que iluminava a todos neste mundo. E a todos aqueles que o acolhessem, pela fé, deu-lhes o poder de serem filhos de Deus. De sua plenitude todos nós recebemos, graça sobre graça. Pois a Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1, 1-18)! Assim sendo, podemos depreender deste testemunho profético de João, de que Deus tinha, propriamente, dois motivos para assumir a condição humana neste mundo, realizando o Mistério da Encarnação. Um motivo, o primeiro, foi estabelecido no momento da criação, antes do pecado original. Visto que, ao ser humano fora conferida a condição e a dignidade de imagem e semelhança do Verbo de Deus, era conveniente que o Verbo tomasse forma humana. O segundo motivo, não menos importante que o primeiro, foi estabelecido depois do pecado de Adão e Eva, os nossos pais, para realizar a regeneração e a salvação do gênero humano, cujo pecado havia corrompido a sua dignidade e estavam sujeitos à morte eterna.
O primeiro motivo da Encarnação do Verbo, se deu por causa da dignidade humana e da condição do ser humano de ter sido feito à imagem e à semelhança do Verbo – no momento da criação, e anterior ao pecado de Adão e Eva no Paraíso. Este motivo, segundo Deus, seria um jeito de o Senhor Deus demonstrar à humanidade – através da Encarnação do Verbo em forma humana – o quanto ele a tinha em consideração, pela sua condição e dignidade, e, sobretudo, pelo fato de ter sido feito à imagem e semelhança do próprio Verbo! Jesus Cristo, o Verbo de Deus, assumindo a condição humana, estaria demonstrando que Deus estabelecera, desde o princípio, uma relação muito estreita e privilegiada com o ser humano. A humanidade teve, desde o princípio, na pessoa do Verbo o seu protótipo, a sua imagem, o seu modelo de vida! Por isso, era conveniente que o Verbo espiritual, invisível e divino tomasse forma visível e carnal, para que os homens pudessem vê-lo e, uma vez vendo-o pudessem imitá-lo em sua conduta de vida, tomando-o como modelo de vida e de santidade. A Encarnação do Verbo, deveria ser, segundo Deus, como a expressão de seu amor e da sua solidariedade para com a sua criatura mais amada neste mundo! Ela fora feita pelas mãos do Deus Criador, como a figura mais excelente, a mais perfeita e a mais sublime neste mundo! Quando Deus fizera o homem e a mulher, ele os fizera olhando para Jesus Cristo, o Filho e o Verbo do Pai, conferindo-lhes uma figura e uma condição semelhante à de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor! Por isso, convinha, certamente, que o Verbo viesse ao mundo, na plenitude dos tempos, em forma humana, para que todos se espelhassem nele o modo perfeito de viver. Ele deveria vir ao mundo para recuperar aquela dignidade que os homens haviam perdido com o pecado. E, além disso, conferir ao homem uma dignidade ainda maior e mais perfeita, concedendo-lhes a condição de filhos adotados por Deus. Neste sentido, a perfeição só seria possível, neste mundo, imitando o Verbo Encarnado! A santidade e a retidão de vida, só seria possível, com o auxílio da graça divina, imitando o Verbo Encarnado!
O Verbo de Deus, assumindo a natureza humana, tornando-se homem como nós, abraçou a nossa condição humana em toda sua plenitude, exceto no pecado. Ou seja, Jesus Cristo, na verdade, assumiu a condição humana da mesma forma como era a natureza humana de Adão e Eva no Paraíso, antes de terem cometido o pecado. No corpo, tanto Jesus quanto Adão e Eva, eram constituídos de uma carne humana frágil, corruptível, mortal e vulnerável. Entretanto, eles eram portadores de uma alma imortal e incorruptível. Assim sendo, tanto Jesus Cristo quanto Adão e Eva no Paraíso, possuíam uma alma espiritual naturalmente consolidada no bem e na santidade, embora tivessem o livre-arbítrio de pecar e fazer o mal. Tanto Adão e Eva no Paraíso, quanto Jesus Cristo, o Verbo de Deus Encarnado, eram constituídos por uma natureza humana inclinada naturalmente para o bem, que os preservava na santidade e repelia imediatamente todo e qualquer mal ou pecado. Tinham todos a fortaleza da graça divina e os dons do Espírito Santo, para praticarem toda sorte de virtudes. Eram, tanto Jesus Cristo quanto Adão e Eva no Paraíso, constituídos de uma inteligência bem esclarecida na verdade, bem como, dotados de uma consciência moral decididamente enraizada no bem. Por isso, jamais teriam se dado a permissão de cometer qualquer pecado. Assim, Jesus Cristo, se encarnando na natureza humana, veio recuperar o homem em toda a sua dignidade original – apresentando-se como modelo de vida e norma de conduta -, fazendo com que os filhos de Adão e discípulos de Jesus Cristo, pudessem viver uma vida de perfeição e santidade, semelhante ao estilo de vida dos nossos pais no Paraíso. Como disse o Apóstolo: Deus nos predestinou, em seu amor, a sermos adotados como filhos seus, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade. E, assim, ele quis fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem-amado” (Ef 1, 5-6). Pois, Deus nos escolheu, em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos (Ef 1, 4).
O segundo motivo da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo era a redenção e a salvação da humanidade. Depois de Adão e Eva terem cometido o pecado, foram devidamente castigados, conforme o mandamento divino, que foi dado da seguinte forma: Podeis comer de todas as árvores do jardim, mas não comais da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque, no dia em que o fizerdes, sem dúvida morrereis (Gn 2, 15-16). Deus estava determinado a castigar o pecado humano da desobediência ao seu mandamento, com a morte eterna! Ambos, Adão e Eva, foram devidamente advertidos: se eles fizessem o mal, haveriam de morrer, com toda certeza! E, uma vez cometido o pecado, eles receberam o devido castigo da expulsão do Paraíso, e a pena da morte eterna! E, Adão e Eva, depois de terem cometido o pecado, perceberam que nada seria possível para reverter a situação e evitar a pena de morte. Nada, absolutamente nada que eles fizessem haveria de demover a justiça divina – nem a misericórdia divina poderia aplacar a justiça divina de aplicar o castigo prometido – para fazer com que Deus desistisse de condenar o pecador e aplicar o castigo da pena de morte eterna! Nenhum arrependimento, nem qualquer penitência ou sacrifício praticados por Adão e Eva haveriam de livrá-los da morte. Nada poderiam fazer para obter de Deus o perdão deste pecado e ser, devidamente, redimidos e salvos da morte eterna. Por isso, era necessário que Deus mesmo criasse algo, em sua Divina Misericórdia e Sabedoria, para redimir o homem de seu pecado e salvá-lo da morte eterna. Era necessário que Deus elaborasse um plano para resgatar a humanidade deste castigo perpétuo da morte! Em sua arcana e misteriosa ciência e sabedoria, Deus Pai, Junto com o seu Filho e com o Espírito Santo, elaboraram aquele misterioso Plano de Redenção dos nossos pecados e de Salvação da morte eterna! E, conforme este plano, o Verbo de Deus deveria encarnar-se num homem, assumir a natureza humana, a fim de que ele, o Verbo Encarnado, realizasse, pessoalmente, a redenção e a salvação do gênero humano, através de seu sacrifício na Cruz. O sangue derramado do corpo deste homem, o Verbo Encarnado, seria remédio de redenção e purificação de todo pecado. A morte deste homem, o Verbo Encarnado, anularia o castigo da morte eterna, sendo causa e princípio de salvação da humanidade. Assim, o Verbo Encarnado – sacrificando-se pela humanidade e em lugar da humanidade; bem como, derramando o seu sangue redentor – obteve, em favor dos homens, o perdão dos pecados e a remissão do castigo da morte. Desta forma, Jesus Cristo, com o seu sacrifício – passando pela sua paixão e morte de Cruz – conquistou para a humanidade a reparação do mal feito, o perdão dos seus pecados e a salvação da morte eterna!
Foi em Cristo que Deus Pai nos escolheu, já bem antes de o mundo ser criado, para que fôssemos, perante a sua face, sem mácula e santos pelo amor! Por livre decisão de sua vontade, predestinou-nos através de Jesus Cristo, a sermos nele os seus filhos adotivos, para o louvor e para a glória de sua graça, que em seu Filho bem-amado nos doou. É nele que nós temos redenção, dos pecados remissão pelo seu sangue. Sua graça transbordante e inesgotável, Deus derrama sobre nós com abundância, de saber e inteligência nos dotando. E assim, ele nos deu a conhecer o mistério de seu plano e sua vontade, que propusera em seu querer benevolente, na plenitude dos tempos realizar: o desígnio de, em Cristo, reunir todas as coisas: as da terra e as do céu (Ef 1, 3-10)!
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