Liturgia da Palavra – Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2022. Oitava do Natal [Sagrada Família, Jesus, Maria e José, Festa], Ano A.
30 de dezembro de 20221.“MistériodaEncarnaçãodeJesus”! Eva e Maria nos desígnios de Deus! (Art. 6)
30 de dezembro de 2022
Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (cf. Tt 3, 4). Demos graças a Deus que nos dá tão abundante consolação neste exílio, nesta peregrinação, nesta vida tão miserável.
Antes de aparecer a sua humanidade, a sua bondade também se encontrava oculta; e, no entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como poderíamos conhecer tão grande misericórdia? Estava prometida, mas não era experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou por meio dos seus profetas (Hb 1, 1). E dizia, por meio dos profetas: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (Jr 29, 11). E o que respondia o homem, que experimentava a aflição e desconhecia a paz?
Agora, portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim dizer, como um saco pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na paixão, para derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que embora pequeno estava repleto. Pois um menino nos foi dado (Is 9, 5), mas nele habita toda a plenitude da divindade (Cl 2, 9). Quando chegou a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade.
Veio na carne para se revelar aos que eram de carne, de modo que, ao aparecer sua humanidade, sua bondade fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus manifestou sua humanidade, sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia expressar melhor sua bondade senão assumindo minha carne? Foi precisamente esta minha carne que ele assumiu, mesmo sabendo que estava contaminada pelo pecado.
Poderá haver prova de amor mais eloquente de sua misericórdia do que assumir nossa condição humana, numa carne contaminada pela miséria do pecado? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se rebaixar a uma condição de vida tão humilhante? Poderíamos nos perguntar, junto com Davi, dizendo: Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho (Sl 8, 5)? Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim, compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se humilhou por mim, tanto mais elevado é seu amor por mim! E é tudo isto que o Apóstolo quis revelar quando disse: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (Tt 3,4).
São Bernardo de Claraval, Abade e doutor, Sermão da Epifania do Senhor, 1-2 , PL 133, 141-143, (séc.XII), In Liturgia das Horas, 398-399.